Whiplash – Em Busca Da Perfeição (2015)

17/11/2016

Whiplash

Musical ‧ Drama ‧ 1h 47m ‧ 2015 ‧ Damien Chazelle


SOBRE A PERFEIÇÃO


Antes de dedicar-se ao cinema, Damien Chazelle, diretor e roteirista do filme, havia estudado música. E isso é bem perceptível. O filme, que se passa no imaginário Shaffer Conservatory de Nova York, é em parte inspirado às suas experiências como baterista jazz. Sua formação musical influencia até mesmo a estética da obra: com suas repentinas mudanças de ritmo, "Whiplash" (2014) cresce ao acompanhar a música que lhe deu o título.

Porém, o verdadeiro protagonista da história não é Andrew, perseverante alter ego do diretor, mas sua excruciante busca pela perfeição técnica, uma obsessão comum na cabeça não só do cidadão médio norte-americano, mas do homem ocidental em geral, sempre à caça do sucesso.

No começo, a vida de Andrew é normal. Mora em um apartamento simples. É o melhor aluno da turma. Nos fins de semana, encontra-se com o pai num cinema. Tem uma relação com a bela Nicole.

Uma vez que é chamado a fazer parte da melhor orquestra do conservatório, aquela sob o comando do temível professor Fletcher, as ranhuras de sua vida perfeitamente monótona começam a aparecer. A pobreza de seu apartamento torna-se o reflexo de sua incapacidade de sobressair. Entre os novos colegas, quem não o ignora, certamente o despreza. A aflição dos encontros com seu pai revelam um complexo de Édipo ainda não resolvido. A falta de objetivos na vida de sua namorada vira uma desculpa para desprezá-la.

Seu próprio corpo passa por uma série de modificações: as mãos se enchem de calos, enquanto as extremidades dos dedos se escoriam pelo uso excessivo das baquetas.

Todavia, o desgaste físico não é o bastante para seu mestre, um indivíduo alucinado e severo que impõe a disciplina através de abusos psicológicos e humilhações físicas.

Pelo resto do filme, além da dor e do cansaço, com o nosso herói compartilharemos o gosto amargo de uma dúvida: há uma recompensa final para tamanho sacrifício?

Como o terrível sargento Hartman de "Nascido para Matar" (1987), Fletcher não pretende uma obediência às regras, mas uma tensão capaz de partir seus alunos como cordas que foram esticadas demais. Seu método cruel se fortalece diante das fraquezas de seus alunos: como o mais malvado dos professores, primeiro ele se mostra cordial, para depois agredi-los brutalmente.

Até o final da película não saberemos se sua agressividade é o resultado de uma falência como artista ou uma espécie de seleção artificial para que somente os fortes, os potenciais herdeiros de Charlie Parker, possam ir em frente com a carreira de músicos.

De repente, como uma nota dissonante, o caminho rumo ao sucesso descobri-se ser uma descida ao inferno, e o sonho de estar tocando na mais prestigiosa escola de música dos EUA transforma-se no pior dos pesadelos.

Algum elástico interno de Andrew se rompe. Logo, essa dissonância psicológica atinge todos que estão ao seu redor: os laços com a namorada e com o pai se rompem, os resíduos da calma se diluem na fúria de um acidente de carro, e sua denúncia anônima faz com que o professor perca o emprego.

O final do filme nos leva a um clímax em que dominam sentimentos opostos: a angústia obsessiva e a redenção satisfatória lutam até a última nota.

Ao sair da sala de cinema, nos deparamos todos com a mesma pergunta: o que somos dispostos a perder para obter a perfeição?

                                                                                     Dino Lucas Galeazzi

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