Super Size Me - A Dieta do Palhaço (2004)

12/11/2016

Super Size Me

Drama ‧ Comédia ‧Documentário‧ 2004 ‧Morgan Spurlock

   MASTIGANDO A VERDADE


O documentário começa com uma estranha canção. Algumas vozes gritam as seguintes palavras: <<Kentucky Fried Chicken e uma Pizza Hut. Eu gosto de comida>>. A extravagância desse hino particular deixa espaço ao terror quando descobrimos que quem o está entoando é um grupo de criancinhas, a maioria delas já com evidentes problemas de peso.

Bem-vindos aos Estados Unidos da América que, graças aos seus cem milhões de habitantes obesos ou acima do peso, conseguiram se tornar a nação mais gorda do mundo. Logo, a voz do diretor nos afoga num oceano de dados alarmantes: por exemplo, a McDonald's, a maior franquia de comida rápida existente, opera já em mais de trinta mil estabelecimentos espalhados em cem países dos seis continentes, alimentando cerca de quarenta e seis milhões de pessoas. Dado inevitavelmente atrelado às trezentas mil mortes por ano associadas com a obesidade.

Não se trata de uma mera crítica ao capitalismo nem do milésimo protesto contra a insensibilidade das corporações, mas de uma simples constatação: Burger King, Dominos's Pizza, McDonald's, Pizza Hut, Starbucks, Subway, são só alguns dos vetores epidêmicos de uma doença que está se espalhando rapidamente pelo inteiro planeta, dizimando suas vítimas através de paradas cardíacas, diabetes e problemas respiratórios.

Tudo há início em 2002, com um fato de crônica: uma jovem de quatorze anos, um metro e sessenta centímetros de altura por setenta e sete quilos de peso, juntou-se a outra de dezenove anos, um metro e setenta centímetros de altura por cento e vinte e dois quilos de peso, para processarem juntas a corporação do palhaço Donald e as demais empresas de fast food por terem provocado seus atuais problemas de obesidade. O que advogam os defensores do McDonald's, guiados pelo temível Roland, é que essas acusações não têm importância, pois os perigos da comida são universalmente conhecidos, portanto as crianças não podem provar que seus problemas de saúde são provenientes apenas da "dieta do palhaço". Mas eis que a justiça surge em defesa dos mais fracos. Ou não. O juiz alega que se os advogados das adolescentes provarem que o McDonald's quer fazer as pessoas comerem sua comida todos os dias e que tal prática é irracionalmente perigosa, as meninas podem ganhar a causa.

Nesse contexto, o diretor Morgan Spurlock decide mover seus primeiros passos no mundo do documentário, decidido tanto em ajudar as duas jovens obesas quanto a responder a uma importante questão: onde termina a responsabilidade individual e começa a das corporações?

Como numa desesperada tentativa de aplicar o axioma do filósofo Feuerbach <<Nós somos o que comemos>> ao corrompido cenário pós-moderno, Morgan começa sua mutação física e psicológica estabelecendo seis regras: durante trinta dias, suas três refeições diárias deverão ser feitas exclusivamente num qualquer McDonald's; ao longo desse mês, cada item do McMenu deverá ser testado pelo menos uma vez; incluindo a água engarrafada, todos os alimentos ingeridos deverão vir de um estabelecimento do McDonald's; sempre que lhe for oferecido, deverá ser escolhido o tamanho "Super Size"; todas as promoções oferecidas deverão ser aceitas; obrigação de não superar a média dos cinco mil passos diários.

Os resultados? Catastróficos.

Segundo dia: Morgan prova pela primeira vez o tamanho "Super Size", levando cerca de uma hora para comê-lo, chegando até a vomitar.

Quinto dia: Morgan ganhou cinco quilos em cinco dias. Mas o corpo não é a única vítima, pois também a mente começa a vacilar e surgem os primeiros sintomas de depressão.

Vigésimo dia: além da perda de energia e do menor desempenho sexual denunciados pela esposa, Morgan adverte estranhas palpitações ao coração.

Trigésimo dia: objetivo alcançado. Ao longo de sua jornada, o diretor sofreu uma verdadeira transformação, deixando de ser um jovem saudável, com um metro e oitenta e oito centímetros de altura por oitenta e quatro quilos de peso, para tornar-se um americano sobrepeso, com a mesma altura e onze quilos a mais. Serão necessários quatorze meses de dieta para voltar ao seu estado normal.

Partindo de um fato cotidiano, o documentário chega a falar de uma tragédia social, que atinge a todos. Operando um processo de identificação quase grotesco, o diretor faz de si um rato de laboratório de seu próprio experimento, criticando os hábitos alimentares do americano médio. Seu protesto é feito com ironia e falsa ingenuidade, uma mordida de cada vez, sem necessidade de vomitar sentenças, mas simplesmente mastigando a verdade.

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