O Sal Da Terra (2014)

17/11/2016

The Salt of the Earth 

Documentário ‧ Biografia ‧ História ‧ 1h 55m ‧ 2014 ‧ Wim Wenders e  Juliano Ribeiro Salgado


SOBRE SEBASTIÃO SALGADO


Wim Wenders sempre fora interessado em homens angustiados que buscam uma redenção nos espaços abertos do mundo. Haja exemplo disso no protagonista de "Alice nas Cidades" (1974), cuja solidão reflete-se na vastidão do solo americano. Ou nos anjos intangíveis de "As Asas do Desejo" (1987), que se movem pelas ruas de Berlim percebendo cada história como parte de um todo. Ou, ainda, nas primeiras cenas de sua obra-prima "Paris, Texas" (1984), que exaltam a pequenez do indivíduo perdido na infinidade de um deserto, uma metáfora corajosa sobre nossa condição em face das dificuldades da vida.

"O sal da terra" (2014) torna-se, portanto, uma obra fundamental a partir do momento em que traz para a realidade os questionamentos do diretor sobre a atormentadora imensidade da vida. Finalmente, os heróis de Wenders se concretizam na figura de Sebastião Salgado, o célebre fotógrafo brasileiro que sentiu a necessidade de sondar o mundo em sua vastidão, imortalizando fragmentos de espaço e de tempo através de suas fotos.

Os primeiros minutos do documentário são de fundamental importância, pois definem quais serão os percursos traçados pelos atores do longa-metragem. Por um lado temos um artista alemão, desde sempre perdido na borda que separa a ficção cinematográfica do cotidiano; pelo outro encontramos um artista brasileiro, cuja empatia pelas minorias ofegantes que lutam para sobreviver o levaram a testemunhar algumas das piores atrocidades cometidas pelo ser humano.

Os dois caminhos se cruzam e, finalmente, a sétima e a oitava arte se juntam num documentário biográfico que permite ir além dos paradigmas que definem a estética da imagem, além do olhar que, por detrás das câmaras, abraça o mundo inteiro.

Através do corpo e da fala, Salgado volta à sua terra de origem. Senta-se no topo de um morro onde passeava durante a infância para observar o território em sua volta. No seu olhar se mesclam a curiosidade de uma criança com a lucidez de um adulto. Sua fala é direta e simples: se juntarmos um grupo de fotógrafos para capturar a mesma imagem de um mesmo ponto, cada um o fará de forma diferente, pois o que constrói uma imagem não é o punhado de aparelhos que uma pessoa carrega consigo, mas a vivência que se sedimenta em cada um de nós.

O que despertou o interesse de Wenders por Salgado foi uma foto que, usando suas palavras, o faz chorar cada vez que olha para ela: trata-se do retrato de uma indonésia cega. Como se cobertos por um sudário, seus olhos são esbranquiçados. Todavia, há algo neles que demonstram firmeza e vitalidade.

O cineasta aponta para o verdadeiro legado desse incrível aventureiro. Ao contrário do que muitos podem achar, Salgado não se limitou a ser um foto-documentarista da fome e da guerra que flagelaram o nosso tempo. Por trás da fachada antropológica, suas lentes focaram em populações que, mesmo postas em condições extremas, lutaram por tudo que há de mais valioso: o direito à vida.

Com o auxílio de um espelho semi-transparente, Wenders nos mostra Salgado e suas obras ao mesmo tempo. Logo, o fotografo revista várias fotos que compõem não só o trajeto de sua carreira, mas também o percurso de uma existência voltada tanto ao foto-jornalismo quanto ao altruísmo.

"Serra Pelada" (1999), "Outras Américas" (1999), "Trabalhadores Rurais" (1996), "Êxodos" (2000), são alguns dos trabalhos de Salgado que nos são mostrados.

Por um instante, parece que só há tristeza no mundo.

Cadáveres abandonados na margem de uma rua descrevem a estrada da morte. O rosto de uma criança atrás de um vidro estilhaçado testemunha a perda da inocência. Um bombeiro perdido num inferno de fogo e petróleo documenta a perdição humana.

No jogo de luzes dessas imagens, a sombra prevalece. Mas é em sua última obra, "Gênese" (2013), que o fotografo encontra novamente a esperança: através de seu recente trabalho, Salgado nos diz que ainda pode brotar algo bom dessa terra atormentada. 

                                                                                                                   Dino Lucas Galeazzi

© 2016 Doc O'Blivion - Salvador - Ba. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora