O Medo Na Tela

28/04/2017

Diretores independentes brasileiros apostam no gênero terror


Vários cineastas, hoje conhecidos internacionalmente por seus filmes mais mainstream, deram seus primeiros passos na sétima arte através de obras do gênero terror. A exemplo dos grandes nomes de Hollywood, como James Cameron, que dirigiu as duas maiores bilheterias da história, Sam Raimi, imortalizado graças à primeira trilogia do Homem-Aranha, e Curtis Hanson, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado em 1998, dentre outros.

Em tempos recentes, alguns cineastas brasileiros do cenário underground parecem seguir por um caminho parecido, ganhando destaque em festivais e viralizando pela web graças a obras de horror.

Independentemente de quão espinhoso seja o assunto tratado no roteiro, ou da violência do caso verídico que serviu de inspiração para a sinopse, estes jovens diretores escolheram filmar suas histórias através de lentes que privilegiam o sangue e a perversão.

Qual o motivo que leva um iniciante a optar por um gênero tão diferente, que raramente é valorizado por público e crítica?

"Desde o começo, em parte de maneira intuitiva e em parte de maneira muito consciente, sabíamos que o gênero flertava muito bem com os poucos recursos que tínhamos no início" afirma Mariana Zani, co-fundadora da RZP Filmes, produtora brasileira de curtas-metragens. Sua fala relaciona-se bem com aquela de outro cineasta independente, a do baiano Calebe Lopes: "Cinema de horror, em si, é um gênero mais barato de ser feito. Você não precisa de atores famosos e nem de grandes atuações", explica.

Pequenos esforços para grandes resultados, este é o atrativo.

Todavia, uma vez tomada a decisão de rodar um filme de terror, cabe ao diretor lidar com mecanismos mais complexos, aqueles que regem tanto a linguagem cinematográfica quanto o medo do espectador. Isso requer um esforço introspectivo que vai além da equação de custo e benefício. Como complementa Calebe, necessita-se "entender que o horror tem códigos, que as alegorias têm força, que o social e o pessoal têm sua própria fonte de medo".

Mais que qualquer outro gênero, o horror está atrelado à nossa psique. A partir da década de 1960, após as mudanças acarretadas ao gênero graças a Alfred Hitchcock e seu revolucionário "Psicose", filmes de terror são contaminados por subtextos psicológicos. A violência deixa de ser simples recurso lúdico para tornar-se ferramenta da poética do autor, uma vez que angustias e pulsões do mesmo são sublimadas na tela: através da arte, oferece-se a possibilidade de uma catarse.

"O ser humano gosta de sentir medo. Por isso vamos a montanhas russas e vemos filmes de terror. Acho que o terror é um jeito de exorcizar os monstros das nossas cabeças" diz Rodrigo Gasparini, diretor paulista do longa-metragem de sucesso "O Diabo Mora Aqui". Uma tese que pode ser reencontrada na obra "Arte Poética" de Aristóteles, quando o autor sustenta que as tragédias dos teatros purificavam a alma do público graças às fortes descargas de emoções, ou no legado de Sigmund Freud, uma vez que em psicanálise chamam-se de processos catárticos aqueles que permitem a superação, por parte do paciente, de algum trauma do passado.

"Sempre me fascinou esse universo de violência e morbidez que o gênero pode oferecer. Penso que nos meus filmes esse gênero ajuda a colocar coisas que realmente penso sobre as pessoas e sobre minhas vivências de um jeito mais alegórico e mais sensorial", confessa o diretor indie do Maranhão, Lucas Sá, num discurso próximo ao pensamento do filosofo esloveno Slavoj Zizek: se algo se torna muito traumático, violento, as coordenadas de nossa realidade estremecem e, então, precisamos transformá-lo em ficção.

Diante de sua experiência na área de produção, Mariana Zani diz que "para o filme obter sucesso, ele precisa criar essa identificação real com o espectador" e talvez esse seja o cerne da questão, sobre o que move um estreante a produzir um curta de terror: a identificação que ocorre entre o público e o filme de horror é diferente das demais.

Como sustentado pelo escritor norte-americano Chuck Palahniuk em seu livro de ensaios, "Mais Estranho que a Ficção", os fatos chocantes que marcam nossas vidas despertam um mecanismo de defesa involuntário, conhecido como narcotização: uma barreira erguida para conter os efeitos colaterais de um trauma real.

O filme de terror engana este mecanismo. O que assistimos não é verdadeiro, o que permite ao espectador de vivenciar uma experiência desagradável por um viés alternativo, permitindo-lhe uma melhor reflexão sobre si mesmo, e também sobre determinadas sociedade e época.

"Se fomos observar, todos os filmes de terror são reflexos de seu tempo, dos medos de suas sociedades. E, em eras onde não se pode falar abertamente das coisas, os filmes de terror ganham esse caráter político formidável", afirma Calebe. O diretor conclui dizendo que "quando o grande público perceber que filmes de terror vão muito além do que meros sustos, o gênero chegará ao seu auge". Em plena assonância com o discurso de Mariana, a qual afirma que "o filme de terror vai muito além dos sustos, ele pode carregar subtextos complexos e tratar de assuntos reais, ainda que de maneira lúdica".

Portanto, não é somente uma questão de baixos orçamentos. Diretores iniciantes optam pelo terror porque este gênero consegue atingir o espectador de forma eficaz, mexendo com aquela emoção que o escritor H. P. Lovecraft definiu como sendo a mais antiga e a mais forte da humanidade: o medo.

                                                                                                   DINO LUCAS GALEAZZI



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