A Onda (2008)

14/11/2016

Die Welle 

Drama ‧ Terror ‧  1h 47m ‧ 1991 ‧ Dennis Gansel


SOBRE ALGO ASSUSTADOR


Há algo estranho no professor Reiner Wenger. Dirige-se à escola ouvindo "Rock and Roll High School" a todo volume, mas ao acompanhar a letra da música seus gestos repentinos revelam uma agressividade reprimida. Veste-se como um adolescente, mas isso não o aproxima de seus alunos. Sua forma alegre de ser só atrai o desprezo de seus colegas. E aquele sorriso afiado e torto denota algo sinistro de sua alma.

Seguimos os passos desse excêntrico professor, ex-contestador anárquico, que se vê obrigado a dar uma aula sobre totalitarismo para uma turma de alunos passivos, reflexo estilhaçado da juventude atual: quem não vive um drama familiar, choca-se com alguma forma de alienação social. Trata-se de estudantes insatisfeitos, desiludidos tanto com a vida quanto com a disciplina: depois do que aconteceu com Hitler, como pode ainda haver espaço para uma nova ditadura?

O professor sai da sala para pensar. Alguma coisa fora da janela captura sua atenção. A aula recomeça e a proposta apresentada no quadro é chocante: intencionado a demonstrar quão é fácil manipular a massa, o professor decide recrear um sistema autocrático com a própria turma.

Através uma eleição democrática, Reiner torna-se chefe dessa microfacção totalitarista que será chamada de "A Onda", com tanto de uniforme, símbolo e gesto de saudação próprios. Logo, os jovens começarão a vê-lo como uma autoridade, seguirão suas regras, aceitarão viver numa hierarquia gerida por uma disciplina feroz e regras firmes, onde não é valorizado o indivíduo, mas o grupo.

Começa como um jogo. As coisas parecem funcionar. A força ditatorial perpassa vários aspectos existenciais. A psicologia dos alunos é influenciada através de marchas que os fazem sentir parte de uma entidade única. O rendimento educacional melhora graças uma nova disposição das carteiras que elimina os grupos, melhorando as relações. A saúde física é afetada positivamente quando, ao se levantarem para falar, os alunos sentem própria circulação melhorar. Todavia, quem não se conforma a esse sistema, acaba sendo investido por ele: enquanto os outros passam a ser vistos como uma ameaça, os que se abstêm a ordem do grupo são postos para fora, rejeitados como um câncer que pode afetar um tecido perfeito.

De repente, as coisas começam a fugir das mãos do professor. A doutrina é trazida para casa. Os alunos se sentem mais seguros, parte de um organismo autônomo. "A Onda" torna-se uma válvula de escape para o sofrimento que cada um carrega consigo. O rancor por uma sociedade capitalista que sempre os renegou se concretiza em atos de vandalismo e em lutas contra bandas rivais.

Reiner, que estava apreciando sua nova posição de führer, vê-se agora diante a um monstro orgânico incontrolável, capaz de ingerir novos adeptos e de despejar atos de extrema violência.

Em 1967, num colégio da Califórnia, o professor Ron Jones fez uma proposta aos seus alunos: simular uma ditadura dentro da sala de aula, para demonstrar que até mesmo numa democracia pode nascer o autoritarismo. As conseqüências desse experimento foram tão graves que o professor acabou sendo demitido. Parece absurdo, mas o filme de Dennis Gansel se baseia em fatos reais.

O roteiro é interessante e angustiante ao mesmo tempo, mas não livre de defeitos: a temática, por mais forte que seja, é abordada de forma muito didática, o que torna os personagens superficiais.

O desfecho é previsível, mas se salva pela força da cena final: novamente, o professor fixa seu olhar em algo que se encontra além de uma janela. O público não pode ver, mas sabe que se trata de algo assustador.

                                                                                                          Dino Lucas Galeazzi

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