A Grande Beleza (2013)

09/11/2016

La Grande Bellezza

Drama  ‧ 2h 21m ‧ 2013 ‧ Paolo Sorrentino


A GRANDE FEIURA


Sorrentino não se limita em fornecer ao mundo um cartão postal da capital italiana vista pelos olhos de um turista alienado, pois o que ressalta nesse roteiro, um dos piores do novo milênio, é a total cegueira mental de quem tentou emular o talento de Federico Fellini, obtendo a nível artístico um resultado comparável ao desastre da Costa Concórdia.

A diferença entre o diretor de "A Doce Vida" (1960) e o criador desse naufrágio cinematográfico vai muito além da questão do talento, presente no primeiro e ausente no segundo, pois é o próprio objeto cenográfico que mudou: de 1960 para 2013, Roma deixou de ser a bela cidade que hospedou os jogos Olímpicos, assim como perdeu totalmente seu lado glamour que atraia personagens ilustres e gerava celebridades. O que sobrou daqueles lugares capazes de moldar o imaginário coletivo é um punhado de ruínas fotografadas por usuários do Instagram.

Eis que surge o primeiro erro: Roma é uma cidade atualmente esquecida nos contextos político e econômico, portanto qual a necessidade de tratá-la como se fosse o centro do mundo? Uma escolha errada, anacrônica, sobretudo se seu objetivo é criticar a elite social.

Mas não basta errar na teoria, a película tem que resultar incômoda em todos os seus aspectos práticos, tanto que qualquer escolha artística resulta irritante: excesso de dolly em cenas inúteis; música onipresente; fotografia puramente decorativa; festas noturnas irreais; uma hipotética santa maquiada como um zumbi; presença maciça de sacerdotes, anões e freiras numa vergonhosa homenagem ao mestre Fellini.

Na compra dos ingressos, alguém pode até pensar de estar fazendo a escolha certa. Na sala de cinema, muitos podem achar de estar assistindo um filme inteligente, não só porque ganhou o Oscar como melhor filme estrangeiro, mas porque inúmeros são os críticos que o elogiaram. Mas isso seria um engano, pois é fácil confundir insolência artística com talento, vacuidade retórica com inteligência discursiva, analogias banais com metáforas sagazes, pequenos clichês com grandes aforismos. Trata-se de pseudo-intelectualismo, nada mais e nada menos. O que de fato choca dessa comédia que não é engraçada, o que irrita desse drama que não envolve, são os personagens. Não há um deles que preste. Não existem micro-histórias que o público possa lembrar uma vez que as luzes da sala se acendem. O próprio protagonista, Jep Gambardella, resulta falso, quase quanto o metro de juízo usado em Hollywood em suas cerimônias. Toni Servillo interpreta um escritor maldito do qual o cinema não teria sentido falta se nunca tivesse existido: outro mártir que se comisera pela própria escalada social, o milésimo herói em busca de redenção que se compadece pelo peso da cruz que carrega consigo. Por mais de duas horas de filme, seremos obrigados a ouvir as sentenças pronunciadas por um ancião que resumiu sua existência ao ato de reclamar de tudo que o cerca. Até descobrirmos, no fim, que o drama que o persegue ocorreu no passado, quando sua namorada lhe mostrou os seios: um flashback para lembrar o dramático evento, como no pior dos scripts.

Em um dos primeiros planos de "A grande beleza", ouvimos um hino religioso, quase funéreo. Porque, de certa forma, Roma morreu. Tornou-se um lamaçal moral.

Em um dos últimos planos, Jep afirma de ter procurando a grande beleza e de nunca tê-la encontrada.

Com certeza não é nesse filme que a devemos procurar.

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